Tahtib
- Gabriel Garcia Borges Cardoso
- 29 de abr.
- 5 min de leitura
O Tahtib, uma arte marcial tradicional egÃpcia que utiliza bastões, é uma prática profundamente enraizada na história e na cultura do Egito. Embora seja praticado em todo o Vale do Nilo, sua concentração é mais evidente no Alto Egito, particularmente nas provÃncias de Minya, Assiout, Sohag, Qena, Luxor e Aswan. No Delta do Nilo, especialmente na provÃncia de Sharkiya, a tradição é mantida principalmente nas áreas rurais. Em grandes cidades como Cairo e Alexandria, a prática do Tahtib está associada à presença da comunidade Saeedy, população rural originária do Alto Egito. Além disso, comunidades beduÃnas também praticam o Tahtib em áreas desérticas.

O termo "Tahtib" deriva da palavra árabe "Hatab", que se refere a galhos secos de árvores. Essa arte marcial remonta à Quinta Dinastia do Egito Antigo, durante o reinado do Rei Sahourêh (2600 a.C.). As primeiras evidências arqueológicas do Tahtib foram encontradas em Abusir, uma necrópole do Reino Antigo localizada nos subúrbios do sudoeste do Cairo. Relevos da Pirâmide de Sahure (cerca de 2500 a.C.) retratam cenas que parecem representar treinamentos militares com bastões. O Tahtib, juntamente com o arco e flecha e a luta livre, era um componente essencial do treinamento militar.

Cenas de Tahtib também foram encontradas em três dos 35 túmulos da necrópole de Beni Hassan (Dinastias XI-XII, 1900–1700 a.C.), próximo à cidade de Minya. Imagens semelhantes estão presentes no sÃtio arqueológico de Tell el Amarna (Dinastia XVIII, 1350 a.C.), a cerca de 60 km ao sul de Minya. Durante o perÃodo do Novo Império (1500-1000 a.C.), o Tahtib aparece como uma arte cerimonial nas paredes arqueológicas de Luxor e Saqqara. Inscrições também foram encontradas na provÃncia de Minya, datando das Dinastias XI e XII, no Templo de Medinat Habu, construÃdo pelo Rei Ramsés III durante a Vigésima Dinastia (1183-1152 a.C.). Cenas de homens jogando com bastões também foram descobertas no cemitério "Khro AiF", nos túmulos dos nobres em Al Asasef, na margem oeste de Luxor.
O Tahtib é mais do que uma simples competição entre dois indivÃduos. Trata-se de um evento coletivo que envolve lutadores/jogadores, músicos e espectadores, reunidos em um cÃrculo que participa ativamente da prática. A dança serve como uma fase introdutória, funcionando como um ritual de harmonia. Cada lutador/jogador segura o bastão, instrumento principal do duelo, que mede aproximadamente 1,30 metro de comprimento e é conhecido por diversos nomes, como asa, asaya, assaya, nabboot ou nabut. O bastão é mantido flexÃvel através da aplicação de óleo para evitar ressecamento e é segurado em uma das extremidades, com o polegar frequentemente posicionado ao longo do bastão para maior controle. O pulso permanece flexÃvel durante os movimentos de rotação, mas se torna rÃgido no momento do golpe.
O duelo começa com os rivais levantando os bastões como sinal para iniciar a luta, seguido por uma saudação mútua. Em seguida, cada rival realiza ritualmente o el-mussalpha. A competição propriamente dita começa quando ambos seguram o bastão com as duas mãos e iniciam o combate. O vencedor é aquele que consegue tocar o corpo do oponente com o bastão. Durante a competição, os lutadores/jogadores buscam movimentar-se de forma a atingir o rival, ao mesmo tempo em que se defendem de golpes, especialmente na região da cabeça e do tronco. Os espectadores não apenas torcem, mas também podem interromper a competição caso as regras sejam violadas por um dos competidores.
O Tahtib é regido por regras especÃficas e promove valores como cavalheirismo, força, orgulho e harmonia. Por isso, essa prática é uma fonte de entretenimento, alegria e prazer durante diversas celebrações. Atualmente, uma competição de Tahtib dura cerca de um minuto e segue regras rigorosas, destacando-se:
Respeito mútuo total,
Controle absoluto.
O Sheikh (juiz) é responsável por supervisionar a competição, e suas decisões são definitivas, especialmente em casos de hostilidade. Nesses momentos, o juiz intervém, afastando o infrator e convocando um novo participante. Essa intervenção é conhecida como Al Qatea.
As habilidades do Tahtib são transmitidas através de treinamentos e simulações de combate, nos quais os mais velhos ensinam crianças a partir dos 10 anos de idade. O aprendizado começa com as regras e a ética, seguido por técnicas de manuseio do bastão e autodefesa, culminando em habilidades avançadas de Tahtib. Os mais experientes compartilham suas vivências pessoais, enfatizando não apenas a coragem, força, agilidade e astúcia, mas também o respeito pela tradição do Tahtib.
Algumas práticas com o bastão egÃpcio incluem:
Posição inicial: Os participantes ficam frente a frente, erguendo o bastão com o pulso voltado para dentro, inclinando-o levemente para proteger o rosto.
Movimentos circulares: Os parceiros giram o bastão sobre suas cabeças, quase se tocando, repetindo o movimento quatro vezes.
Golpes controlados: Realizam-se quatro golpes com força moderada.
Figura em oito: Repetem-se os movimentos anteriores em forma de oito, também quatro vezes.
Movimentos neutros: Caminhando normalmente, os braços se movem em uma direção e depois na oposta, invertendo o sentido do movimento corporal quatro vezes.
O objetivo principal é tocar a cabeça ou outra parte do corpo do oponente, sendo proibido golpear mãos, braços ou ombros.
Além de sua função defensiva, o Tahtib é praticado como entretenimento, frequentemente associado a cerimônias como casamentos, o retorno de peregrinos e o Mulid (festa dos santos). Originalmente, o Tahtib era realizado apenas por homens, mas, com o tempo, as mulheres também passaram a participar, seja vestindo-se como homens e imitando seus movimentos, seja na forma de uma dança chamada ra's el assaya (dança do bastão).
Atualmente, o Tahtib é praticado de três maneiras principais:
Como esporte e técnica de autodefesa;
Como jogo tradicional popular;
Como dança performática com bastão.
Essas três formas também estão representadas nas paredes de templos e túmulos faraônicos.
Homens de diferentes classes sociais e faixas etárias, a partir dos 10 anos de idade, praticam o Tahtib, muitas vezes continuando até os 80 anos. Muitos desses praticantes desempenham um papel crucial na promoção e proteção dessa arte, ensinando os princÃpios e técnicas do uso do bastão a familiares, vizinhos e interessados. Eles participam ativamente de celebrações, apresentando o Tahtib e organizando competições para incentivar tanto os experientes quanto os novatos, promovendo a troca de conhecimentos e técnicas.
O governo egÃpcio desempenha um papel importante na preservação do Tahtib, tanto na educação quanto na prática. O Instituto Superior de Arte Popular (vinculado à Academia de Artes do Ministério da Cultura do Egito) inclui o Tahtib entre os jogos populares egÃpcios e oferece cursos para aprendizado. O Ministério do Esporte também fomenta atividades relacionadas ao Tahtib em clubes e grupos juvenis em todas as provÃncias do Egito. Em 2016, o Tahtib foi inscrito na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO.
Referências:
ABDALLA, Shahinda. Tahtib: The ancient Egyptian martial art that turned into a folk dance. In.: Community Services Association. s.d. DisponÃvel em: https://csa-living.org/oasis-blog/tahtib-the-ancient-egyptian-martial-art-that-turned-into-a-folk-dance . Acesso em: 29 abr. 2025.
EMAD, Yasmin. "Tahtib".. Pharaonic Martial Art Turned into a Folk Dance. In.: Egyptian Geographic. 2025. DisponÃvel em: https://egyptiangeographic.com/en/news/show/376Â . Acesso em: 29 abr. 2025.
MODERN TAHTIB. History: 5000 years ago. 2021. DisponÃvel em: https://tahtib.com/5000-years-ago/ . Acesso em: 29 abr. 2025.