Jazz
- Gabriel Garcia Borges Cardoso

- 15 de set.
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A dança Jazz é uma forma artística profundamente enraizada na cultura negra americana, que se desenvolveu em paralelo ao gênero musical de mesmo nome.
Sua história é marcada por uma rica junção de influências, sincretismo cultural e uma relação simbiótica com a música, refletindo a própria história social dos Estados Unidos (Nalett, 2015; Britannica, 2020; Rosie, 2021).
As origens da dança jazz remontam às danças sociais e tradicionais trazidas pelos escravizados africanos para a América, principalmente para os Estados Unidos da América. Essas danças eram caracterizadas por movimentos em contato com o chão, com joelhos flexionados, pulsação corporal, isolamentos e palmas (Nalett, 2015).
Proibidos de praticar suas tradições, como pelo Slave Act de 1740, os escravizados começaram a misturar elementos de diversas culturas africanas e os mesclaram com elementos europeus, criando uma nova expressão cultural. Ritmos corporais, como pisoteados, batidas de pés e sons vocais, foram incorporados ao que mais tarde se denominaria Jazz (Nalett, 2015).
No século XIX, shows de menestréis (minstrel show), apresentações onde artistas brancos parodiavam a vida dos escravizados usando blackface (rostos pintados de preto), popularizaram - mas também apropriaram, humilharam e distorceram - esse estilo perante o público branco. Essa apropriação dificultou o reconhecimento de artistas negros, muitos dos quais migraram para a Europa, onde foram mais celebrados (Nalett, 2015; Rosie, 2021).
Foi também nesse período que o Sapateado (tap dance) surgiu, no palco dos espetáculos de menestréis, de uma combinação da jig (dança tradicional irlandesa), do clog dancing inglês (dança do tamanco) e da marcação rítmica africana (Britannica, 2020).
A virada do século XX foi um período crucial. A música de bandas de desfile, com sua levada característica "oom-pah", ditava o ritmo para que as pessoas marchassem. No entanto, nas periferias desses desfiles em Nova Orleans, os "segundinhos" (second liners) - jovens das comunidades mais pobres - começaram a subverter a marcha, cantando, dançando e improvisando com criatividade (Rosie, 2021).
Nas salas de baile, essa ruptura com a harmonia tradicional se manifestou na Dança do bolo (cakewalk), que se tornou uma febre, e depois nas "Danças Animais" (Animal Dances), como o Turkey Trot, que romperam com a "linha de dança" harmoniosa e previsível com movimentos excêntricos e imprevisíveis (Britannica, 2020; Rosie, 2021).
A década de 1920 viu o advento do Charleston, que quebrou definitivamente a convenção de que uma dança social era feita exclusivamente com um único par. As pessoas dançavam sozinhas, em grupos ou trocando de parceiro durante uma mesma música (Rosie, 2021).
Este foi também o período de ouro de artistas como Bill "Bojangles" Robinson, que revolucionou a sapateado ao transferir os passos do pé inteiro para a ponta do pé, conferindo leveza e clareza rítmica (Nalett, 2015).
A era de ouro da dança jazz social coincidiu com a "Era do Swing" (décadas de 1930 e 1940), impulsionada pelas big bands. Foi nesse contexto que o Lindy Hop floresceu, uma dança de par energeticamente acrobática e de improviso que se tornou um fenômeno cultural (Britannica, 2020; Nallet, 2015). É aqui que se consolida o conceito de "Dança Jazz Autêntica" (Authentic Jazz Dance), termo cunhado posteriormente pelo dançarino Pepsi Bethel para distinguir as formas originais, negras e sociais de jazz daquelas derivadas do ballet e do teatro, que surgiriam mais tarde (Rosie, 2021).
A Dança Jazz Autêntica é definida por sua relação íntima e simbiótica com a música. É uma forma de escuta ativa, onde o dançarino responde fisicamente ao ritmo, à melodia e às quebras da música, incorporando-a através de um "pulso" quase imperceptível que marca cada batida e conecta os parceiros (Rosie, 2021).
O fim da Segunda Guerra Mundial e o advento do Bebop, um jazz mais complexo e menos dançante, levaram ao declínio das grandes salas de baile. Esse evento marcou a transição da dança jazz de uma atividade social para uma forma de arte cênica profissional (Britannica, 2020; Nalett, 2015; Rosie, 2021). Coreógrafos como Jack Cole, considerado o "pai do jazz teatral", começaram a fundir a técnica clássica do ballet e a expressividade da dança moderna com a estética do jazz, criando uma forma mais disciplinada e estilizada para os musicais da Broadway e de Hollywood (Nalett, 2015).
O Jazz foi muito utilizado nos espetáculos musicais entre os anos cinquenta e setenta, nos quais eram expressos assuntos da vida urbana contemporânea. São exemplos: West Side Story de Jerome Robbins, A Chourous Line de Michael Bennet, All that jazz e o popular Fama de Bob Fosse, e o mais recente Chicago de Rob Marshall. As pessoas que mais influenciaram no desenvolvimento e reconhecimento da dança foram Jack Cole e Katherin Dunham. Jack Cole frequentou o mesmo ambiente artístico que deu origem aos grandes inovadores da dança moderna. Conseguiu conjugar a dança índia tradicional com a música jazz norte-americana e estudou as danças procedentes do Brasil e de Cuba. Ensinou Marilyn Monroe a dançar e coreografou numerosos musicais na Broadway (Sampayo, 2007).
Nas décadas seguintes, a dança jazz continuou a evoluir, influenciada por sucessivas tendências musicais - o Rock and Roll nos anos 1950, o Twist e o Motown nos 1960 - e por grandes coreógrafos como Bob Fosse, com seu estilo distintivo e visceral (Nalett, 2015). A partir dos anos 1970 e 1980, surgiu uma nova grande influência: as danças de rua (street dance), como o breakdancing, que emergiram das comunidades negras e latinas como uma forma de expressão e competição alternativa à violência das gangues. Esses estilos, junto com o hip hop, reintroduziram na cultura mainstream a energia e a contestação das origens da dança jazz (Nalett, 2015).
Referências:
BRITANNICA, Encyclopaedia. jazz dance. Encyclopaedia Britannica, 2020. Disponível em: https://www.britannica.com/art/jazz-dance.
NALETT, Jacqueline. History of Jazz Dance. 2015.
ROSIE, John. The history of Authentic Jazz dance. National Jazz Archive, 2021. Disponível em: https://nationaljazzarchive.org.uk/explore/jazz-stories/history-authentic-jazz-dance.
SAMPAYO, Sonia. Dança: movimento e expressão corporal. São Paulo: Queen Books, 2007.



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